sexta-feira, 20 de junho de 2008

Eye of the Heart – Número 1

No passado mês de Setembro foi aqui anunciada a criação de uma nova publicação periódica dedicada ao estudo da Sabedoria Tradicional, o “Eye of the Heart”. Fica agora o aviso que o seu primeiro número foi recentemente publicado e pode ser consultado online e gratuitamente na sua página.

Como incentivo à sua leitura, publico aqui a tradução de parte do primeiro editorial, escrito pelo seu editor Timothy Scott, onde este aborda os principais objectivos desta nova publicação.

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O “Eye of the Heart: A Journal of Traditional Wisdom” surge da percepção da necessidade da existência de uma publicação académica que reconheça a abordagem tradicional ao estudo da filosofia e da religião. Existem, de facto, numerosas publicações dedicadas à filosofia e à religião. Aquelas que podem ser consideradas académicos tendem, de uma maneira geral, para a adopção de uma abordagem que recorre à aplicação dos modelos teóricos contemporâneos e procedimentos analíticos que podem, na melhor das hipóteses, ser descritos como não tradicionais. Estas têm o seu valor, mas este weltanschauung intelectual não tem os direitos exclusivos sobre o reconhecimento e mérito académicos. As várias publicações não académicas nesta área variam entre o altamente questionável e alguns dos mais excitantes e intelectualmente estimulantes trabalhos publicados. Ainda assim, mesmo as melhores destas publicações são raramente aceites e reconhecidas no meio académico. É nossa esperança que o “Eye of the Heart” possa remediar esta situação.

Não ficará fora de contexto dedicar aqui algumas palavras sobre o nome desta nova publicação. O nosso primeiro critério para a escolha do nome foi que este deveria ser universal. A frase “eye of the heart” [olho do coração] ajusta-se bem a este critério, como as citações ao longo das páginas do nosso “website”, provenientes de várias tradições, o revelam. Optámos por um nome em língua inglesa, evitando linguagens técnicas ou obscuras, uma vez que estas poderiam sugerir um ênfase em determinada tradição ou abordagem linguística. Assim, enquanto que Oculus Cordis poderia ter sugerido um cunho mais esotérico ou mesmo uma maior credibilidade académica, não seria verdadeiro para com o carácter inclusivo que desejamos aspirar. Da mesma forma, houve algum debate em relação ao subtítulo “A Journal of Traditional Wisdom”, sendo a principal questão o recurso à palavra “wisdom” [sabedoria], a qual tem sido tão maltratada e abusada pela corrente “New Age”. De novo, se a opção tivesse recaído sobre a palavra Grega “sophia” teríamos evitado esse problema. No entanto, optou-se pela palavra “sabedoria” de forma a nos mantermos fiéis à ideia original.

Resta ainda explicar o uso da palavra “tradicional”. Aqueles que conhecem o trabalho desenvolvido pelo departamento de Filosofia e Estudos Religiosos na Universidade “la Trobe” em Bendigo sabem que vários dos membros – não todos – do concelho editorial simpatizam com o perenialismo. No entanto, a intenção não é criar uma nova publicação “perenialista” ou “tradicionalista”. Em primeiro lugar, sentimos que este espaço já é preenchido com publicações como a “Sophia: The Journal of the Foundation of Traditional Studies”, “Sacred Web: A Journal of Tradition and Modernity”, “Connaissance des religions”, e a recentemente recuperada “Studies in Comparative Religion”. Em segundo lugar, como editor, procuro desenvolver o conteúdo do “Eye of the Heart” para além de uma corrente puramente perenialista e das tradições normalmente associadas a esta, abrindo o perenialismo para um diálogo ainda mais amplo. Tenho bem a noção que existem muitas pessoas simpatizantes com um estudo tradicional da filosofia e da religião que, no entanto, nunca ouviram falar do perenialismo, ou que possam mesmo ser hostis para com elementos que daí entendem. A nossa intenção com o “Eye of the Heart” é facilitar um fórum onde a variedade das perspectivas possam ser expressas. O nosso princípio base é que as grandes tradições filosóficas e religiosas do mundo sejam tratadas com respeito à luz da Realidade que expressam.

Ao referirmo-nos a abordagens tradicionais para o estudo da filosofia e da religião, temos em mente duas coisas. Em primeiro lugar, uma abordagem geral que se inicie a partir do contexto das tradições em análise. O principal aspecto aqui é a aceitação de uma Realidade como o ponto de partida essencial. Devemos ainda referir a mentalidade fundamentalmente simbólica de povos tradicionais. A segunda coisa que temos em mente quando falamos de abordagens tradicionais são as numerosas metodologias destas tradições, como por exemplo: a Hermeneia (Grega), a Nirukta (Hinduísmo), a Lectio Divina (Cristianismo), as práticas Cabalísticas como a gematria, notariqon, e temura, e as ciências Islâmicas das letras, ilm alhuruf. É com estas em mente que decidimos republicar alguns trabalhos seminais. Espera-se que estes possam providenciar parte das justificações metodológicas para estudos originais que pretendem usar estas abordagens tradicionais, ou servir como inspiração para futuros trabalhos sobre estes modos de pensamento.

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